O começo
Em 2016, quando o Brasil tomou uma goleada da Alemanha, Diego e eu compramos duas garrafas de Cantina da Serra e, entre lágrimas, enchemos a cara.
Em 2015, a ideia de uma zine provavelmente já havia sido aventada também com Lucca. A cronologia não importa muito porque a ideia de criar algum tipo de artefato cultural em que pudéssemos todos colaborar sempre se fez presente em nossas conversas.
Estivéssemos jogando truco ou conversa fora, a ideia de promover a cultura nunca deixou de ser um assunto recorrente ao qual voltávamos com alarmante circularidade, até que, dois anos atrás, Diego tomou a dianteira.
Frequentemente, sonho com o apartamento e com o bairro que dividíamos então. Penso em nossas conversas e pequenas celebrações espontâneas. Penso, também, em como estávamos alinhados em relação às nossas ambições.
Assim como a derrota de 2016 serviu como prenúncio para algo muito maior, nossas disparatadas ideias sobre como escrever em um país que possui mais escritores do que público sempre tiveram um ar profético. A Ensaio em breve se tornaria maior do que nós mesmos, muito maior do que havíamos sequer sonhado que poderia ser.
À diferença do vexame da copa, contudo, o prenúncio da Ensaio mostrou-se um excelente augúrio.
Conhecemos pessoas, fizemos novas amizades, fortalecemos as antigas. Desengavetamos textos, desfiamo-nos a publicar coisas que jamais sairiam em periódicos. Acertamos e erramos, embora eu, particularmente, acredite que o número de acertos foi maior que o de erros.
Mais importante: demos vozes a textos que teriam sido cerceadas dentro dos confins da academia ou do jornalismo tradicional brasileiro. E tudo começou não de uma ideia, mas de um vestígio de uma ideia. Um plano sem nada de concreto, mas inabalável o suficiente para que, a cada repetição do já famoso clichê “a gente devia fazer algo juntos”, este se tornasse sólido.
No entanto, como diz o já clichê título do livro de Marshall Berman, tudo que é sólido se desmancha no ar.
A ensaio encerra suas atividades por ora, mas me recuso a acreditar que ela esteja se desmanchando, uma vez que nem sequer é sólida. Pelo contrário. Ela há de existir nos textos dos nossos muitos colaboradores (Karina, Laura, Castelo, Mayã, Josué); nos textos de Diego, Lucca e meus; há de existir como uma lembrança, mais um resquício de um determinado tempo e de determinada era em que tivemos força, apesar do 7 a 1, para levantar a cabeça, tal qual na tirinha do Laerte e dizer “a gente deveria fazer uma zine”